quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Planeta Terra é o lar de 8,7 milhões de espécies

Vandré Fonseca

Halgerda batangas, espécie de lesma do mar, descoberta em 2000. Crédito: Steve Childs

A mais precisa estimativa apresentada até hoje sobre o número de espécies existentes na Terra indica que o ser humano compartilha o planeta com outros 8,7 milhões de seres diferentes. No mundo, como até agora foram catalogadas cerca de 1,2 milhões de espécies, isto significa que mais de 7 milhões continuam desconhecidas pela ciência. Segundo o estudo, 86% das espécies que vivem na terra ou águas continentais e 89% das espécies marinhas ainda não foram descobertas.

O cálculo foi publicado por cientistas do Censo da Vida Marinha na revista PloS Biology e é baseado em uma inovadora técnica analítica que torna mais precisas as estimativas realizadas até agora. Essa nova estimativa tem uma margem de erro de 1,3 milhões de espécies para mais ou para menos. Ela ainda é uma margem larga, mas é um grande avanço sobre os números anteriores, que estimavam números tão discrepantes que variavam de 3 milhões a 100 milhões espécies.

“Muitas espécies podem desaparecer antes de conhecermos sua existência, seu nicho único, sua função no ecossistema e o sua contribuição potencial para o bem-estar humano”, afirmou o autor principal do estudo, Camilo Mora, da Universidade do Havai e da Universidade Dalhousie em Halifax, Canadá. A estimativa leva em conta apenas os seres eucariontes (que têm núcleo celular organizado), deixando de fora os vírus e as bactérias, que possuem uma altíssima variedade.

 
O Censo da Vida Marinha, concluído formalmente em outubro do ano passado, havia projetado a existência de 1 milhão de espécies nos oceanos. A nova estivativa, publicada agora, dobrou este número. Pelos novos estudos, nos oceanos estão 25% do total de espécies do planeta, o que equivale a 2,2 milhões de espécies.

“Como astronômos, cientistas marinhos estão usando novas ferramentas e técnicas sofisticadas para chegar a lugares nunca antes vistos”, compara o gestor do Comitê Científico do Censo, o australiano Ian Polner. “Durante 10 anos de censo, milhares de exploradores marinhos tiveram a experiência humana única e privilegiada de encontrar e nomear animais novos para a ciência. Nós podemos claramente aproveitar a Década da Descoberta por muitos anos que virão”, acrescenta. Entre os fungos, por exemplo, há cerca de meio milhão de espécies a serem descobertas.

Números de espécies eucariontes
ReinoEspécies estimadasEspécies descritas e catalogadas
Animais7,77 milhões953.434
Plantas298,000215.644
Fungos611.00043.271
Protistas36.4008.118
Chromistas27.50013.033
Total8,74 milhões1.233.500

Espécies já descritas

Desde que o cientista sueco Carl Linnaeus criou em 1758 o sistema utilizado até hoje para nomear e classificar os seres vivos, mais de 1,2 milhão de espécies foram descritas e catalogadas (1 milhão na terra e 250 mil nos oceanos). Existem ainda cerca de 700 mil espécies descritas, mas que ainda não catalogadas.

Um dos autores do artigo, Boris Worm, da Universidade Dalhousie, destaca que o mais importante estudo sobre espécies em extinção, a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, monitora menos de 1% do total de espécies no mundo. Na lista, estão 59.508 espécies, sendo que 19.625 foram classificadas como ameaçadas. “A humanidade assumiu a missão de salvar espécies da extinção, mas até agora nós temos uma pequena idéia de quantas podem existir”, salienta.

Para obter a estimativa, os cientistas utilizaram padrões numérico encontrados dentro das classificações taxonômicas, que agrupa a vida em uma pirâmide hierárquica. Assim puderam projetar, a partir da parte mais alta, quantas subdivisões haveria na base. Ou seja, dados os reinos (como o animal), fizeram projeções sobre quantas espécies poderiam existir.

“Nós descobrimos que, usando números dos grupos taxonômicos altos, nós prevíamos o número de espécies”, afirma Sina Adl, que também assina o artigo. “A aproximação previu acuradamente o número de espécies em grupos bem estudados como os mamíferos, peixes e pássaros, provando a confiabilidade do método”, completa.

O estudo projeta também os custos e o tempo necessário para descrever todas estas espécies, utilizando meios tradicionais. Seria necessário que mais de 300 mil taxonomistas trabalhando por 1200 anos para descrever todas as espécies ainda desconhecidas do planeta. Um investimento de 364 bilhões de dólares. Felizmente, o trabalho hoje em dia está mais fácil, rápido e barato, graças às novas técnicas, entre elas os estudos genéticos.

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