quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Degradação e aquecimento global ameaçam anfíbios do Cerrado


Embora ainda pouco estudado, sabe-se que existem mais de duzentas espécies de anfíbio no Cerrado. Se as previsões climáticas se confirmarem, o clima do Brasil vai se tornar mais quente e seco. Para as espécies de anfíbio desse tipo de bioma, a chance de sobreviver às mudanças do clima estará nas áreas de Cerrado da região Sudeste. O problema é que essa região concentra a maior parte da população brasileira e onde há maior destruição de habitat. Dessa forma, esses anfíbios correm grave perigo.

O alerta é de um estudo realizados pela organização não-governamental Fundação de Pesquisa e Conservação do Cerrado (Pequi), com apoio da Fundação Boticário. “Considerando os cenários futuros de mudanças climáticas e a tendência de devastação do Cerrado, a maior parte das espécies de anfíbios desse bioma deverá ser reduzida”, diz a responsável técnica pelo projeto e professora da Universidade Católica de Brasília, Débora Leite Silvano.

A pesquisa denominada Diversidade de Anfíbios no Cerrado e Prioridades para sua Conservação em Cenários Futuros de Mudanças Climáticas foi desenvolvida durante o doutorado de Débora e da colega Paula Valdujo na Universidade de São Paulo (USP). Enquanto a primeira analisou principalmente aspectos relacionados à conservação, Paula fez estudos sobre a ecologia das espécies.

De acordo com o estudo, pelo menos oito espécies perderão mais de 70% da área de ocorrência, com grande risco de desaparecerem. Entre as espécies mais ameaçadas estão o Bokermannohyla sazimai, encontrado em Minas Gerais, e Ameerega berohoca, do Alto Rio Araguaia.



Um levantamento de 45 mil registros em 11 coleções do Brasil indicou a ocorrência de 204 espécies de anfíbios no Cerrado. Durante a pesquisa, realizada em 2010, foram descobertas dez novas espécies. Metade das espécies encontradas é endêmica. O Cerrado é o bioma brasileiro com a fauna de anfíbios menos conhecida.

Na análise de 90 espécies endêmicas, o estudo concluiu que mais da metade delas (52) não estão satisfatoriamente protegidas, e 19 delas estão fora de unidades de conservação. Apenas seis espécies exclusivas do bioma são consideradas protegidas e 32 parcialmente protegidas.

Para serem feitas as projeções, foi utilizado um modelo de degradação do Cerrado elaborado pelo professor Ricardo Machado na Universidade de Brasília, que indica a deterioração futura no bioma se mantidas as atuais perspectivas e políticas de proteção. O estudo analisou também os efeitos de 19 variáveis climáticas, com dados sobre temperatura e chuvas.

Apesar de não existirem projeções específicas para o Cerrado, diferentes modelos climáticos preveem para o final do século XXI um aumento de temperatura de 1,5 a 8 º C e reduções de chuvas de até 4 mm por dia em determinadas regiões do Brasil. “Se os ambientes onde eles vivem não estiverem bem protegidos, os impactos das mudanças climáticas sobre eles serão ainda mais intensos. Por isso, há urgência de se proteger esse habitat”, afirma a pesquisadora.

De acordo com as conclusões sobre o clima, o trabalho também traçou um plano para a conservação dos anfíbios do Cerrado. Entre as áreas prioritárias para a conservação destes animais estão as depressões dos rios Araguaia, Tocantins e do alto-médio São Francisco; as chapadas do rio São Francisco, no oeste baiano, a porção norte do Planalto Central, o Planalto dos Guimarães e a Serra do Espinhaço.


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