sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Processo de Reflorestamento em Sooretama acelerou no último ano

Irene Garay, professora do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora científica da Fundação Bionativa (Foto: Divulgação)Irene Garay, professora da UFRJ e diretora
científica da Fundação Bionativa (Foto: Divulgação)
Quando Irene Garay pisou em Sooretama pela primeira vez, no final da década de 90, o recém-criado município do Espírito Santo tinha as bordas dos seus córregos  completamente devastadas, provocando erosão, assoreamento e falta de água para a agricultura. Através de um projeto financiado pelo ministério do Meio Ambiente, dentro do Programa Nacional de Biodiversidade, a bióloga argentina se juntou a membros da comunidade e a secretários do município para iniciar o processo de Reflorestamento da região. De cara, o grupo fundou a ONG Bionativa, que agregou um viveiro de mudas nativas, e investiu no café, desejo dos líderes da comunidade. Com a ajuda do Sr. Gilson Lopes de Farias e de Nivaldo del Piero, antigos funcionários da Reserva da Vale e moradores de Sooretama, começou-se a trabalhar na criação dos novos viveiros, na multiplicação de mudas, e na capacitação de jovens para o trabalho no projeto de Reflorestamento. Em 2010, quando o Globo Ecologia visitou Sooretama para gravar o primeiro episódio da série “O bem comum”, o município já estava muito mais desenvolvido do que 12 anos antes. Em um ano, o processo correu ainda mais.
“O processo acelerou muito, sem dúvida. No início de 2010, tivemos má sorte por causa do período de seca. Depois, demos continuidade. O programa ganhou visibilidade e houve a valorização das atividades dos pequenos produtores”, diz Irene Garay.
Professora do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora científica da Fundação Bionativa, Irene já estudava e trabalhava com florestas desde o início dos anos 90. Em Sooretama, começou o processo do zero.
“Antes de virar município, Sooretama era um pequeno núcleo urbano. A Fundação Bionativa não tinha infraestrutura, era um capinzal degradado, sem ruas, sem edificação ou água. A Prefeitura e a Câmara Municipal compraram pedaços de terra para a instalação dos viveiros, foi construída uma represa e veio a eletricidade. A gente tratou de aliar a produção agrícola com a restauração florestal com mudas nativas e também algumas mudas de produção, como o açaí. Na época, havia 17 mil habitantes. Hoje, tem 25 mil”, conta Irene.
O engenheiro Wanderlei Morgan, junto a Nivaldo del Piero, havia implantado o viveiro inicial utilizando parte do saber da comunidade sobre reflorestamento com mudas nativas. Este conhecimento, unido ao saber tradicional sobre a floresta, permitiu ao grupo da Bionativa, junto a jovens estudantes, fazer outros novos viveiros:
Coleta de mudas em Sooretama (Foto: Divulgação)Coleta de mudas em Sooretama (Foto Divulgação)
“Construímos os miniviveiros para que o projeto pudesse ter continuidade. Cada miniviveiro tem capacidade para produzir 50 mil mudas por ano. As mudas crescem muito rápido. Os jovens de Sooretama, filhos de pequenos agricultores, estão sendo incorporados aos sistemas de produção de mudas da região. Eles aprendem a coletar sementes de espécies nativas, a preparar o substrato para as mudas e todas as etapas que culminam na produção de mudas nativas. Em dois anos e meio, capacitamos 70 meninos viveiristas. São estes jovens que hoje guardam o saber sobre as espécies nativas.”
A Bionativa também aderiu ao programa Corredores Ecológicos, do ministério do Meio Ambiente: “Estamos desenvolvendo um subprojeto desde 2009 e já foram plantados mais de 60 hectares com cerca de 150 mil mudas nativas. A fauna voltou. O povo ouve passarinho cantar e temos capivara no córrego da Fundação, o que era impensável.”
Irene destaca a importância do Reflorestamento na região: "Quando o produtor cuida de um córrego, ele não está beneficiando só ele, mas está contribuindo para conservar as espécies e preservar a água que abastece não só aquele município. Ele participa da conservação das Reservas, cuidando do entorno, da conservação dos mananciais, dos lençóis freáticos e, inclusive, das árvores nativas usadas na restauração. Podemos pensar com otimismo que o cuidado do bem comum em cada canto do país pode se multiplicar para alcançar, globalmente, a melhoria da vida no planeta Terra."
Para Irene, o que falta é incentivo, sobretudo, para o agricultor familiar, que é maioria no município e que dispõe de magros recursos. E ela sonha alto: “Precisamos de um apoio internacional. Um país em desenvolvimento como o Brasil está cuidando da água doce do planeta graças a sua diversidade. E o Brasil é um dos maiores possuidores de biodiversidade, é um país que beneficia o mundo todo. Precisamos de um mínimo de dinheiro de base, por isso os países discutem atualmente na Convenção de Biodiversidade a necessidade de pagar para os países que conservam as florestas e que contribuem para a saúde do planeta. A terra, a água, tudo aquilo é bem comum e temos que ser solidários.”

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