sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Trabalho dos taxonomistas é importante para preservar espécies

Descobertas dos profissionais podem levar anos até serem reconhecidas

 
Mario Terra Taxonomia Inpa (Foto: Divulgação)O taxonomista Mário Terra, do Inpa, fazendo
pesquisa de campo (Foto: Divulgação)
Com a diversidade de espécies existentes no Brasil, os taxonomistas – pesquisadores responsáveis por classificar os seres vivos – têm muito trabalho. Munidos de paciência e um olhar apurado, eles fazem inúmeras pesquisas de campo em busca de plantas e animais que ainda não foram catalogados pela Ciência. Foi em uma dessas saídas que o taxonomista Mário Terra, pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), descobriu em maio desse ano uma nova espécie vegetal da família sapotaceae, que batizou de “pradosia Lahosiana” em homenagem a um antigo pesquisador do Inpa, José Eduardo Lahoz. A planta é conhecida popularmente como abiu, casca doce, entre outros nomes. “A espécie foi coletada em 1973, mas só agora foi classificada. Ela estava na coleção de plantas não identificadas. Fui em busca de exemplares vivos e encontrei um nos arredores do Instituto Federal do Amazonas”, conta o especialista.

Mas, como saber que uma espécie é realmente nova? O taxonomista explica o passo a passo do processo. “A descoberta tem que ser publicada em uma revista científica especializada. Só assim ela é reconhecida. Por exemplo, a espécie que eu descobri já tinha sido coletada, mas o estudo ainda não tinha sido publicado. Primeiro coletamos a planta, cortamos, secamos e mandamos uma duplicata para cada coleção no Brasil e no exterior. É importante que a amostra tenha flores e frutos, aí fica provado que não é estéril e é mais fácil de diferenciar de outras espécies. Depois começamos a fazer o estudo nas coleções. É um trabalho demorado, que pode levar meses e até anos”, ressalta Terra.

Até se formar como taxonomista, pesquisadores como Mario Terra estudam por aproximadamente 12 anos, entre graduação, mestrado e doutorado. “É preciso desenvolver a habilidade de diferenciar as espécies, e isso demora. Ao longo do caminho, muita gente desiste. Um bolsista de doutorado ganha cerca de R$ 1.800. Já um de mestrado ganha R$ 1.100. É muito pouco para pagar as despesas. Mesmo assim, o Brasil é um dos mais países que mais investe nesse tipo de formação. Um profissional diplomado, trabalhando para uma instituição federal, ganha em média R$ 7.000. O mais difícil é encontrar profissionais que trabalhem com determinados grupos. Não existem taxonomistas suficientes no mercado, tendo em vista a diversidade de espécies que temos no país. No Inpa só temos quatro profissionais”, revela o especialista.

De acordo com o taxonomista, o Brasil possui hoje ótimas coleções, como a do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e a do próprio INPA, que tem 240 mil plantas catalogadas em seu herbário. “Não é barato manter uma coleção. Elas precisam ficar bem acondicionadas, em salas especiais. Existe muito material brasileiro em coleções estrangeiras, pois muitos pesquisadores vinham aqui e levavam amostras. O Jardim Botânico do Missouri, nos Estados Unidos, tem uma grande coleção da Amazônia, por exemplo”, completa.

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